Marcão sempre foi Marcão. Mesmo menor,
mais tímido, mais magro, Marcos é ‘ão’ e não tem vocação pra ‘inho’. Valter é
mais velho, mas vai morrer Valtinho. Eu sou Roninho, desde sempre. Mas o Marcos
é - e sempre será - Marcão. E não é pra menos...
Marcão é um sujeito que sabe fazer-se grande na vida das pessoas. Chega a ser difícil dizer quando Marcos precisa da gente e quando nós precisamos do Marcos.
O garoto franzino, conta minha mãe,
sempre inspirou cuidados. Bem cedo, uma febre fez-lhe estrábico. Para corrigir
o problema teve de ficar por muito tempo com os olhos tapados. Usando frutas,
palitos e outros que tais, Marcos construía seus brinquedos e nos ensinava a
todos a enxergar sem ver.
Enquanto Valter crescia firme e
bonito, Marcos lutava contra a estatura e praticava esportes para desenvolver o
que, para nós, sempre aconteceu naturalmente. Hoje, tem o melhor corpo entre os
três. Pode comer e beber de tudo que não engorda. É forte e resistente...
Desde cedo, em uma família marcada pela
dispersão, Marcos nos ensinou disciplina e persistência. Sempre olhou o mundo
de frente, sonhando pouco e vivendo um dia depois do outro.
Na adolescência, Marcos teve seus
momentos de rebeldia e preocupou. Mas nunca deixou a realidade na gaveta e
enfrentou esse tempo vencendo um desafio por vez, estudando como eu e Valter
nunca fizemos. Passou no vestibular e foi para Campinas...
Mais uma vez, precisou de nós e nós
precisamos dele. Lembro-me bem daquela noite. Eu, minha mãe e meu pai corremos
para o interior do Estado em busca do filho do meio, sofrendo de pneumonia, com
uma lista gigante de remédios já receitados.
Minha mãe também estava com febre,
indisposta, e a labirintite começava a perturbá-la. Quando chegamos, Marcos
parecia bem ruim.... Mas, no caminho, recuperou a cor, cessou a tosse, enfim,
mudou o quadro. No dia seguinte, ambos, ele e minha mãe, estavam bem.
Era o momento de aprender a viver sem
aquele sujeito e entender que, mesmo distante, ele continuaria perto, muito
perto.
Marcos nunca foi chegado a abraços,
beijos e dengos. É bravo que só e demonstra carinho de outro jeito. Aprendeu
com outro ‘ão’, o vô João, que não há maior amor do que a dedicação àqueles que
amamos. Aprendeu e nos ensinou nos anos que seguiram...
Quando meu pai perdeu tudo pela quarta
ou quinta vez, foi Marcão quem virou a mesa. Montou uma empresa do nada e
assumiu o comando da família. Lá também trabalhei e conheci o irmão-chefe e
exigente...
A empresa declinou e Marcão permitiu
que o negócio chegasse ao fim com dignidade, como a última ocupação do meu pai,
antes de partir.
Ainda lembro bem de quando Marcos conheceu Elaine, a menina com rodinhas nos pés. Persistente, não desistiu até conquistá-la. Mobilizamos o mundo para provocar um encontro entre os pombinhos e assim foi.
Apaixonado, aquele sujeito carrancudo mudou. Ficou mais doce, paciente e exercitou sua dedicação com a mulher amada. Continuou mandão, mas sempre atencioso e cheio de galanteios.
Comigo, Marcos foi só cuidados, desde que me conheço por gente. Diz a lenda que, até o meu nascimento, me jurava de morte, aquela criança ciumenta. Foi só o irmão aparecer, para Marcos assumir o papel de babá e babão, antecipando o pai incrível que seria.
Era ele o irmão que me ajudava nas
tarefas escolares. Sempre interessado, perguntava sobre meus estudos, minha
vida, meus sonhos. O tempo passou e
Marcão continuou ao meu lado, me amparando nas venturas e desventuras.
Vi esse sujeito ligado a aparelhos, na
frieza de uma UTI. Ali precisava de tudo e todos, mas nada podíamos fazer.
Fiquei pensando o que Marcos nos ensinaria dessa vez. E por que, novamente,
precisávamos dele.
Talvez naquele estado tentasse nos
dizer que nada na vida é fácil. Tudo tem o seu preço e sua dose de sacrifício.
O fato é que Marcos está bem e mais
‘ão’ do que nunca. Melhor ainda: está mais bonito e promete dar trabalho depois
dos 50...
E nós, continuamos aqui, achando que
um dia ele pode precisar da nossa força. E sempre com a certeza que podemos
contar com ele!!!!
com participação ortofotográfica de Priscila Machado Melo
com participação ortofotográfica de Priscila Machado Melo
Ai, velhinho, que lindo!!!!!!!! Fiquei emocionada
ResponderExcluirBoa, o e Ronald! Belo texto, bela expressão de carinho e respeito entre irmãos. É sempre bom, contemplar esse lado da natureza humana, parabéns. Vou acompanhar o seu blog. É o nosso clube da esquina... Abração!
ResponderExcluirLindo Rondi! Inspirador. Estou adorando o blog. Beijos com saudades.
ResponderExcluirMinina Ruberta