sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Marcão, irmão, ão....




Marcão sempre foi Marcão. Mesmo menor, mais tímido, mais magro, Marcos é ‘ão’ e não tem vocação pra ‘inho’. Valter é mais velho, mas vai morrer Valtinho. Eu sou Roninho, desde sempre. Mas o Marcos é - e sempre será - Marcão. E não é pra menos... 

Marcão é um sujeito que sabe fazer-se grande na vida das pessoas. Chega a ser difícil dizer quando Marcos precisa da gente e quando nós precisamos do Marcos.

O garoto franzino, conta minha mãe, sempre inspirou cuidados. Bem cedo, uma febre fez-lhe estrábico. Para corrigir o problema teve de ficar por muito tempo com os olhos tapados. Usando frutas, palitos e outros que tais, Marcos construía seus brinquedos e nos ensinava a todos a enxergar sem ver.

Enquanto Valter crescia firme e bonito, Marcos lutava contra a estatura e praticava esportes para desenvolver o que, para nós, sempre aconteceu naturalmente. Hoje, tem o melhor corpo entre os três. Pode comer e beber de tudo que não engorda. É forte e resistente...

Desde cedo, em uma família marcada pela dispersão, Marcos nos ensinou disciplina e persistência. Sempre olhou o mundo de frente, sonhando pouco e vivendo um dia depois do outro.

Na adolescência, Marcos teve seus momentos de rebeldia e preocupou. Mas nunca deixou a realidade na gaveta e enfrentou esse tempo vencendo um desafio por vez, estudando como eu e Valter nunca fizemos. Passou no vestibular e foi para Campinas...

Mais uma vez, precisou de nós e nós precisamos dele. Lembro-me bem daquela noite. Eu, minha mãe e meu pai corremos para o interior do Estado em busca do filho do meio, sofrendo de pneumonia, com uma lista gigante de remédios já receitados.

Minha mãe também estava com febre, indisposta, e a labirintite começava a perturbá-la. Quando chegamos, Marcos parecia bem ruim.... Mas, no caminho, recuperou a cor, cessou a tosse, enfim, mudou o quadro. No dia seguinte, ambos, ele e minha mãe, estavam bem.

Era o momento de aprender a viver sem aquele sujeito e entender que, mesmo distante, ele continuaria perto, muito perto.

Marcos nunca foi chegado a abraços, beijos e dengos. É bravo que só e demonstra carinho de outro jeito. Aprendeu com outro ‘ão’, o vô João, que não há maior amor do que a dedicação àqueles que amamos. Aprendeu e nos ensinou nos anos que seguiram...

Quando meu pai perdeu tudo pela quarta ou quinta vez, foi Marcão quem virou a mesa. Montou uma empresa do nada e assumiu o comando da família. Lá também trabalhei e conheci o irmão-chefe e exigente...

A empresa declinou e Marcão permitiu que o negócio chegasse ao fim com dignidade, como a última ocupação do meu pai, antes de partir.


Ainda lembro bem de quando Marcos conheceu Elaine, a menina com rodinhas nos pés. Persistente, não desistiu até conquistá-la. Mobilizamos o mundo para provocar um encontro entre os pombinhos e assim foi.


Apaixonado, aquele sujeito carrancudo mudou. Ficou mais doce, paciente e exercitou sua dedicação com a mulher amada. Continuou mandão, mas sempre atencioso e cheio de galanteios.


Comigo, Marcos foi só cuidados, desde que me conheço por gente. Diz a lenda que, até o meu nascimento, me jurava de morte, aquela criança ciumenta. Foi só o irmão aparecer, para Marcos assumir o papel de babá e babão, antecipando o pai incrível que seria.

Era ele o irmão que me ajudava nas tarefas escolares. Sempre interessado, perguntava sobre meus estudos, minha vida, meus sonhos.  O tempo passou e Marcão continuou ao meu lado, me amparando nas venturas e desventuras.

Vi esse sujeito ligado a aparelhos, na frieza de uma UTI. Ali precisava de tudo e todos, mas nada podíamos fazer. Fiquei pensando o que Marcos nos ensinaria dessa vez. E por que, novamente, precisávamos dele.

Talvez naquele estado tentasse nos dizer que nada na vida é fácil. Tudo tem o seu preço e sua dose de sacrifício.

O fato é que Marcos está bem e mais ‘ão’ do que nunca. Melhor ainda: está mais bonito e promete dar trabalho depois dos 50...

E nós, continuamos aqui, achando que um dia ele pode precisar da nossa força. E sempre com a certeza que podemos contar com ele!!!!


com participação ortofotográfica de Priscila Machado Melo

3 comentários:

  1. Ai, velhinho, que lindo!!!!!!!! Fiquei emocionada

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  2. Boa, o e Ronald! Belo texto, bela expressão de carinho e respeito entre irmãos. É sempre bom, contemplar esse lado da natureza humana, parabéns. Vou acompanhar o seu blog. É o nosso clube da esquina... Abração!

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  3. Lindo Rondi! Inspirador. Estou adorando o blog. Beijos com saudades.

    Minina Ruberta

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