quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

No lugar onde eu trabalho....


Gonçalves Dias, em sua canção do exílio, chorou em versos a saudade de uma certa terra com palmeiras onde os sabiás cantavam. Uma  terra cheia de estrelas, flores e primores...

Ah se o poeta conhecesse o lugar onde eu trabalho!!!! Palmeiras? Temos todas, mais de mil, com caules, folhas e frutos que apenas os sabiás não dariam conta.
Por lá gorjeiam também biguás, canários, pintassilgos, suiriri e elegantes garças brancas que sobrevoam cinco lagos cheios de peixes.

Lá também tem um certo Caxingelê, esquilinho simpático que salta entre as árvores e o macaco guigó, bicho raro que, de tão feliz, emite um som mais parecido com um canto....
Fico pensando..... O que Gonçalves Dias diria se pudesse ouvir o som da terra? Qual o verso para traduzir um coral particular com 40 vozes cantando sempre e lindamente? Qual a rima para embalar vigas de aço que caem do céu no topo de uma colina?

O poeta de mãe cafuza e pai colono, ficaria orgulhoso em ver nessa terra  quilombolas  trabalhando com dignidade e retornando aos seus lares para reconstruir a história dos seus ancestrais.
No lugar onde eu trabalho, cientistas sonham como artistas. Eles querem reinventar florestas dizimadas desde os tempos de Gonçalves Dias.

E artistas aprendem a ciência de dar forma a tudo o que querem e sonham.
No lugar onde eu trabalho, cientistas e artistas fazem tudo para todos, não guardam nada em gavetas, cofres ou computadores.

De tão lindo, esse lugar exerce um efeito transformador em quem passa por lá. Gonçalves Dias, romântico inveterado, apaixonado pela beleza da terra e suas virtudes, também mudaria os rumos da sua poesia se conhecesse o lugar onde eu trabalho.
Depois de cantar todas as palmeiras e sabiás, descansaria à sombra do Tamboril para tecer os mais lindos versos.

Se o poeta desse um passeio nos jardins e galerias do lugar onde eu trabalho, poderia me ajudar com a sua poesia a cumprir o meu ofício:
Dizer a todos e comunicar a beleza do lugar onde eu trabalho! Algo como...

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.