terça-feira, 12 de junho de 2012

O meu amor....




O mundo padece de uma epidemia de surdez. Isso mesmo! As pessoas querem falar, falar, falar... e têm tão pouco a dizer... Ficam surdas com sua própria fala, perdidas na sua vaidade. Conversas se transformam em competições de histórias vividas, sem aprendizado, sem comunhão.

O sujeito começa a falar de uma doença, de um sofrimento físico e recebe como resposta uma enxurrada de viroses e infecções pretensamente maiores que as dele. O outro conta uma dor de amor e todas as dores do mundo lhe tomam de assalto, como se a sua, naquele momento, não fosse única e digna de ser compartilhada.

Naquela noite eu tinha algo a dizer sobre uma experiência mágica que acontecera comigo. Queria dividir um momento à frente de um altar com a repetição mântrica de uma sequência de Ave Maria’s, acompanhado da minha filha.

Esse momento, essa vivência foi transformadora e, desde então, mentalmente revivo a ladainha em momentos tensos que procuram respostas além do raciocínio cartesiano, da lógica simplória.

O grupo, formado por gente que gosto de frequentar, não estava disposto a ouvir o que tinha a dizer. Talvez o local não fosse o mais adequado, enfim... Mas, do outro lado da mesa, alguém me olhava, apertando os olhos e formando um biquinho lindo para alcançar minha prosa.

Ela realmente prestava atenção, estava interessada naquilo que eu tinha a dizer. E, meu Deus, que moça linda, suave, doce... Fez perguntas pertinentes e observações encantadoras, dessas que deixam uma mulher bonita ainda mais bela...

Fisguei seu nome entre um comentário e outro. Rebeca era aquela que sabia escutar.

No dia seguinte, corri para o facebook rastreando a donzela que não saía da minha cabeça e já conquistara parcela importante do meu coração.

Escrevi e reescrevi umas 18 vezes o recadinho com o endereço deste blog, local virtual onde procuro desnudar minha alma. Tudo o que consegui foi o formal:

Oi Rebeca,

Esse é o blog sobre o qual falamos...

E ela, bem mais inteligente e sutil, respondeu:

Meu terço...de coração e alma. Obrigada por compartilhar

Não, definitivamente não seria uma tarefa fácil conquistar a mulher de olhos apertados. Teria que continuar falando com o coração, sem disfarces. Afinal, ela não me conhecera em um ritual barato de galanteio. Falava da minha vida, do meu altar...

Corri para o mesmo bar no dia seguinte em busca de aliados nessa difícil cruzada. Um amigo prometeu seu apoio para um segundo encontro e fiquei animado. Mas, não podia bancar o babão! O jogo não era esse.

Marcamos na outra quinta-feira, no mesmo bat-local! Cheguei cheio de vontade porém decidido a permanecer cuidadoso. Estava diante de uma mulher delicada, desabituada a movimentos bruscos.

Mais uma noite que exercitamos o ouvido e, dessa vez, com mais atenção, os olhos, aprofundando aquela sensação adolescente de encantamento que o mundo adulto perdeu de vista.

Queria tomar-lhe nos braços, mas nem tinha o telefone da moça bonita e atenta. Pensei: “ Ronald, fique apenas de olhos e ouvidos bem abertos.”

Além do que, restava a dúvida: será que ela apenas me ouvia, me via, ou, de fato, estava tão ansiosa quanto eu para mergulhar nos outros sentidos?

Ao final da noite, quando minha princesa anunciou a partida, levantei no mesmo momento e fiz questão de acompanha-la, como fazia com as minhas paixões de infância, até o portão da sua casa.

Ponto para o rapaz atencioso, saberia semanas mais tarde.... Sim, ao final daquela noite um novo sentimento nos tomava de assalto. Algo que, ao lado do desejo, da vontade, é essencial para a sobrevivência do amor: a admiração.

Nesse quesito, a cada dia me sinto mais orgulhoso da mulher que me acompanha. Profissional de princípios firmes e competência reconhecida, mãe atenta e mulher encantadora a cada gesto. Tudo muito junto em uma mistura fascinante.

Sem disfarçar minha ansiedade –  homens são cachorros ansiosos – quando deixei Rebeca no seu portão saquei um convite para jantar. É... ali, deixei claro, sem muita cerimônia, que queria muitas e muitas noites com aquele olhar e o biquinho lindo que ressurgia nos seus momentos de atenção às minhas falas, aos meus dizeres.

Será que passei do ponto? Que não era a hora? O tempo respondeu não.

O jantar aconteceu na semana seguinte com uma esticada para aquele mesmo bar onde finalmente tomei a moça nos braços e a beijei longa e decisivamente. Beijos de matinê de cinema, com o som de uma chuva pesada que completava o cenário do mundo caindo aos nossos pés.

Já éramos namorados naquele momento, mesmo sem nada declarado. Construímos nesses três encontros aquilo que até hoje cultivamos com o cuidado dos jardineiros que plantam uma palmeira que transcenderá suas próprias vidas.

A conquista, a boa ansiedade, a saudade que percorre as montanhas das Gerais e contorna os prédios da Paulista, as tardes com sol ou chuva, as ondas de Ubatuba, os botecos da Vila Madalena, nossas meninas, nossos papos e comidinhas. Nada deixamos de lado.

Toda vez que a encontro, o meu coração bate meio desgovernado e, faça chuva ou faça sol, o mundo novamente pára pra servir de cenário deste amor maduro.

Trocamos brigas por risadas. Aceitamos o passado como patrimônio e aprendizado. Vamos para o mundo sem sair da toca. Somos donos do nosso próprio destino, mas também sabemos ser um do outro com fidelidade e entrega.

É para ela que mando o meu primeiro bom dia: pessoalmente, por sms, face ou, simplesmente, pelo meu melhor pensamento, quando nada mais funciona.

Adoro me desfazer em declarações escandalosas, mas continuo com ouvidos abertos para cada história: do almoço com o cliente, os conflitos de família ao telefonema sem motivo apenas para um 'eu te amo' no meio da tarde.

Em poucos meses juntos, retomamos votos ancestrais de construir algo novo e verdadeiro ou, simplesmente, reconstruir a utopia do eterno.

Mas, que fique bem claro! Seremos sempre namorados e.... quer saber? Encontramos a melhor fórmula – atenção, desejo, admiração e cuidado!

Essa é a ladainha que depositamos no altar da vida, que nos recompensa a cada dia com uma deliciosa brisa de felicidade!