quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Alguém sabe onde é a boca???



A discussão sobre as exposições envolvendo erotismo e  nudez, seja no Sul ou em São Paulo, deixa claro um certo consenso sobre o fato de que o conteúdo em pauta seria impróprio para crianças – seja na apreciação das obras, seja na participação da garotada em performances. Estaríamos nós – sociedade brasileira – como que protegendo nossos pequenos do nu exposto, do sexo feito arte. Mesmo os que condenam a gritaria liderada pelos meninos do MBL (Movimento Brasil Livre) abrem parênteses para a ideia de que o assunto é coisa de gente grande.

Adianto que não faz muito sentido discutir se o que foi apresentado é arte ou não - como gente de monte que nunca entrou em um museu anda fazendo. Tô vendo a hora que alguém vai colocar o pênis do Adão de Michelangelo na mesa. Ou pior: questionar o poder erótico de Nossa Senhora do Leite. Seria a virgem apropriada à apreciação pública? Amamentar é arte?

O que faz sentido discutir é essa tal de “proteção” às “nossas” crianças. Já que não tenho compromisso com lado nenhum nessa história me aventuro a meter os dois pés na porteira da hipocrisia. Qual, exatamente qual, o problema que pode gerar para o desenvolvimento de uma criança uma pintura erótica ou aquele pobre peladão deitado no chão do MAM???

Você, meu caro leitor, de fato acredita que aquela garotinha que segurou o pé do artista nu, com sua mãe ao lado, perdeu um minuto de sono com o que viu? Ou pior: acha mesmo que aquela visão pode provocar, no futuro dos pequenos, um trauma ou bloqueio sexual diante do pênis mole do sujeito? O que há de erótico em um Cristo cheio de pés e braços? Ou nos desenhos quase infantis de gente transando com bichos?

Crianças são influenciáveis sim, claro. Mas não são imbecis. São expostas à erotização frequente em comerciais de televisão, novelinhas (rebeldes que o digam), modismos, jogos e revistas e nem por isso saem correndo em busca de sexo ou tornam-se pervertidas malucas. O tema aliás já foi bem mais difícil em outros tempos, não é mesmo?

Vivemos anos a fio com dona Xuxa em trajes mínimos e suas paquitas rebolando nas telas, entupindo a garotada com ofertas de brinquedos e amaciando a inteligência infantil com músicas idiotas. E tinha Angélica, Eliana, Mara e outras tantas, cada qual mais exposta e, que fique claro, todas de carne e osso, diariamente na sala de casa.

E tem a tal da Zoofilia definida como perversão que leva ao sexo com animais. Tudo por conta de algumas imagens toscas retratadas em um dos quadros da exposição patrocinada pelo Santander. Pois deixe que seu filhinho digite esse termo zoofilia  no Mr Google para ver o que aparece logo na primeira página: um show de imagens escatológicas de gente de verdade transando com bichos. Isso é arte? Pode?

Essa garotada que jamais passou na porta de um museu passa o dia perdida na internet povoada de pedófilos, zoófilos e outros ófilos que seus pais jamais imaginaram existir e, para os quais, o MBL convenientemente fecha os olhos. Afinal, bater em artista é bem mais legal do que enfrentar criminosos, não é mesmo?

Sem falar da telinha. Os filhos dos queixosos não assistem a novela das 9? Putaria e bandidagem nos morros cariocas em rede aberta, com direito a discussão no Faustão parecem liberadas para as inocentes criancinhas, desde que fiquem longe de museus e seus artistas contemporâneos contaminantes.

Sou pai e lidei com a questão em casa ao longo dos 17 anos da minha filha. Jamais tratamos a nudez com tintas moralistas e nem a arte como coisa certa ou errada. Acho que eu e a mãe da minha filha acertamos. Luísa cresceu em paz com o sexo e com a cultura – sem traumas!!!

É disso que se trata. Do que as crianças recebem em casa, na escola, dos amigos, enfim do seu conjunto de referências. Educar é um processo aberto para o mundo e suas coisas. O véu moralista sempre encobre o pior. Já a naturalidade desperta nas crianças as mais surpreendentes reações.

Uma cena, aliás, ilustra bem o assunto!

Estávamos eu e Luciana assistindo a novela enquanto Luísa, à época com uns quatro ou cinco anos, brincava com suas bonecas. De repente, Fábio Assunção enche Malu Mader de beijos que começavam nos pés e iam subindo libidinosamente pelas pernas da morena, para o nosso constrangimento.

Deveríamos mudar de canal? Ou seria melhor manter e distrair a pequena para não chamar a atenção?

Luísa então começa a gargalhar!!!!!

Eu e a mãe da criança nos olhamos sem entender aquela reação esquisita diante da cena tórrida. E perguntamos, lógico, qual o motivo da risada. Veio a resposta:

- Olha lá!!! Parece que ele não sabe onde é a boca!!!


Pois é... 

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